terça-feira, 22 de novembro de 2011

Vítima de torturas no Uruguai conta detalhes pela primeira vez

Aos 71 anos de idade, a ex-militante do Partido Comunista, Leonor Albagli, vai declarar pela Leonor Albagli/arquivo pessoalprimeira vez à Justiça contra os crimes de tortura que sofreu durante o regime militar uruguaio (1973-1985).'Táticas de guerra' Em 1977, ela foi presa novamente e passou seis anos sendo submetida a novas sessões de choques elétricos, entre outras formas de tortura que às vezes, recordou, só terminavam quando um médico dizia que era o momento de parar ou que ela poderia morrer, como aconteceu com ex-colegas de prisão e militantes. Albagli contou que passou frio e fome e que foi submetida a "táticas de guerra" como quando mergulhavam sua cabeça num balde com excremento e só a tiravam quando já quase não podia respirar. "O submarino (o mergulho no balde) era uma das táticas deles. Também passei dias seguidos com olhos vendados e fui submetida a choques elétricos em todo o meu corpo, incluindo meus (órgãos) genitais. Quando eu estava comendo, com olhos vendados, eles me davam socos no estômago. Muitas vezes, me deixavam nua e me apalpavam, sem escrúpulos", contou. Ela disse que somente uma vez um médico falou aos militares que ela não aguentaria mais as torturas e a internou num hospital militar. "Mas depois me tiraram de lá e as torturas foram reiniciadas", disse. Na prisão, recordou, não a deixavam tomar banho e a chamavam de "suja e judia". "Uma vez, me deixaram tomar banho e quando pedi uma toalha ligaram o ventilador para eu me secar. Eles não queriam nos machucar, eles queriam nos destruir", disse. Ela e outros presos foram levados a uma espécie de julgamento onde os militares revelavam o que os outros tinham dito nas sessões de tortura. "Uma forma de nos jogar uns contra os outros." A tortura a deixou com problemas na coluna e uma gastrite. A previsão é que Albagli e outros ex-presos também realizem, nos próximos dias, exames clínicos e psiquiátricos para que os médicos do Instituto Técnico Forense avaliem as consequências do que sofreram. "Não me arrependo de nada do que fiz. Pela democracia e contra o autoritarismo, teria feito tudo de novo. Não tenho sonhos ou pesadelos com aqueles dias. Mas a vida durante aquele período (de torturas) e depois não foi fácil", afirmou.