sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

MINHAS MEMÓRIAS DO CÁRCERE (Aguinaldo Silva)

Em meados de 1968, a convite do editor Victor Alegria, escrevi para uma das muitas edições brasileiras do Diário de Che Guevara um prefácio a que dei o pomposo título de “A guerrilha não acabou”. O livro foi publicado pela Coordenada Editora, da qual ele era dono, e à qual eu prestava eventuais serviços, os mesmos que acabaram por me render o aluguel do sobrado onde morei na Lapa.

O livro ficou poucos meses nas livrarias: em dezembro foi promulgado o Ato Institucional no. 5, que, entre outras prerrogativas, dava às autoridades poderes para apreender livros e punir quem tivesse alguma coisa a ver com eles, até mesmo quem os guardasse em casa.
Boa parte da edição ainda estava com o editor quando o livro se tornou tão perigoso. Às voltas com as atribulações cada vez maiores da minha vida privada, nunca me preocupei em perguntar a Victor o que fora feito com os exemplares não vendidos do Diário. Achava que ele tivera o bom senso de descobrir um modo qualquer de destruí-los. Na verdade, com todos os riscos, o editor decidira guardar o que restara da edição, talvez achando, como outros brasileiros incautos demais na época, que o Ato 5 e a ditadura seriam apenas um vento rápido, ainda que inconveniente, que soprara com alguma violência sobre as nossas vidas.
Os livros ficaram escondidos num lugar que hoje eu acharia muito apropriado: um depósito de veneno para ratos que pertencia ao mesmo e infeliz dono do sobrado onde eu morava, no andar térreo da bira, a hospedaria gerenciada pelo espanhol Hernandez, bem em frente à minha casa. Os muitos exemplares formavam uma pilha enorme, como confirmaram os agentes do Centro de Informações da Marinha, o temível CENIMAR, que invadiram o local em seguida a uma denúncia anônima. Eram muitas as pessoas que deviam ser castigadas por causa deles – desde o pobre dono do depósito, um português que jurava não saber o que continham os pacotes empilhados, até eu.
Naquele dia, talvez porque estivesse numa fase em que só me preocupava com o que acontecia em torno do meu próprio nariz, nem desconfiei quando Peter Dante, um bailarino a quem eu recém sublocara um dos quartos do sobrado, comentou que notara um entra-e-sai estranho no depósito em frente. Em outros tempos, bastaria eu me debruçar na minha varanda, confirmar a informação de Peter e, sempre levando em conta o que ditava meu sexto e mais afiado sentido, me mandar. Mas então eu já estava em pleno processo de me estabelecer, preocupado com o horário, com a roupa apropriada com que devia comparecer ao trabalho na redação de O Globo – e foi assim que falhei.
Saí para trabalhar por volta de quatro da tarde, cumpri rigorosamente o meu expediente na redação e, ao regressar por volta de 11 da noite, quando percebi que a porta do meu quarto – que eu fechara a chave quando saí – estava entreaberta já era tarde mais para recuar.
O quarto fora arrombado, e lá dentro estavam dois homens. Um terceiro mantinha Peter e seu amigo Ricardo sob severa vigilância no quarto deles. Mal entrei, vi que já haviam revistado tudo, embora não houve muita coisa fora do lugar, a não ser uma foto minha, nu de corpo inteiro, que eu guardara dentro de um livro e agora fora colocada bem à vista, sobre a máquina de escrever. Um dos homens, de óculos escuros, perguntou se eu era fulano de tal, esse aí da foto, e eu confirmei. Vamos ter que levá-lo, explicou, num tom de voz sempre muito calmo. E não se dignou a responder quando perguntei para onde.
Sob os olhares de Peter e Ricardo, cuja muda aflição agradeci, morto de medo, me deixei levar pelos três homens. Fizeram-me entrar num fusca branco, que saiu em direção à Praça Mauá. Transcorridos quinze minutos, e tendo descido várias escadas e atravessado sinistros desvãos nos quais nossos passos ecoavam como num cenário de filme sobre prisioneiros dos nazistas, me vi diante do Comandante Sarmento, como o identificava uma plaqueta no peito, numa sala dos porões do Ministério da Marinha.
O Comandante Sarmento parecia com o ator Peter Sellers no filme Dr. Fantástico. Isso quase me provocou um acesso de riso, mas graças aos céus me contive a tempo. Porque, como me informaram depois, rir diante de Sarmento, ainda que da minha própria desgraça, me seria fatal. Ele recebeu-me de pé, diante de um pôster enorme de Mao Tse-Tung colado na parede ao fundo. Enquanto os três homens se postavam num canto, retirou de uma gaveta um exemplar do Diário de Guevara; abrindo-o na primeira página do prefácio, perguntou, me olhando dentro dos olhos:
- O senhor diz aqui que a guerrilha não acabou. Baseado em que informações pode afirmar uma coisa dessas? O que o senhor sabe sobre a guerrilha que nós ainda não sabemos?
Sem atentar para a gravidade de tudo – achava que antes de sair dali seria no máximo submetido a um interrogatório que incluiria alguns vexames, tentei explicar que o título não era afirmativo, o sentido era figurado, uma brincadeira, talvez demasiado sutil, com o título de um filme de Alain Resnais (A guerra não acabou) de grande sucesso na época...
Mas a reação do Comandante Sarmento me fez emudecer. Tirou da mesma gaveta vários dardos, avançou em minha direção como se pretendesse cravá-los no meu peito e, após alguns segundos em que me petrifiquei de pavor, deu meia volta e os lançou um a um, com redobrada fúria no retrato de Mao, acertando todos no seu rosto. Depois encarou-me com um olhar de pedra e me comunicou que eu estava preso e seria processado de acordo com o Ato 5, por ter escrito esse monte de merda.
- Mas o livro foi publicado antes do Ato 5 – argumentei -, e este não prevê punições retroativas...
Ao que o comandante, depois de olhar dentro da gaveta e se certificar de que lá não havia sobrado nenhum dardo com que pudesse – agora sim – me fulminar, respondeu:
- Nesse caso você não vai ser processo... Mas vai ficar preso!
E fez um gesto para os três homens. Um deles saiu, e logo voltou com uma fila de garbosos fuzileiros. Um destes me colocou um par de algemas nos pulsos, outro me segurou pelo antebraço e me guiou como faria com um cego. Eu e minha escolta já íamos no meio de um interminável corredor que nos levaria a um ancoradouro e um barco quando o Comandante Sarmento gritou o meu nome. Voltei-me e ele disse muito sério:
- Cuidado, hem? Não vá atacar meus fuzileiros...
E sua risada ainda ecoava nos meus ouvidos quando entramos no barco que nos levaria – soube depois – ao presídio da Ilha das Flores.
Não posso evitar: certo pudor me acomete, agora que escrevo sobre minha prisão durante a ditadura. Sinto vergonha por meus carcereiros, principalmente pelo Comandante Sarmento, cujos dardos, todos encravados com certeira pontaria em torno do nariz de Mao Tse-Tung, me fizeram baixar os olhos, para que ele não percebesse o meu constrangimento. Esta deve ser mais uma das minhas falhas de caráter: mas o fato é que a violência, antes de me causar revolta, me faz sempre ficar envergonhado e com pena de quem a pratica. Foi por puro constrangimento que durante vinte anos evitei falar sobre essa ocorrência na minha vida – só escrevi sobre ela uma vez, no jornal Lampião, do qual fui editor.
Enquanto o barco atravessava a baía de Guanabara, sob o olhar impávido dos fuzileiros que o Comandante Sarmento parecia ter escolhido a dedo para me escoltar, não pensava no que ia me acontecer, nem mesmo me preocupava com a violência que me engolfara. Fixava-me apenas no fato de que tinha que descobrir um meio de me livrar daquilo tudo o mais depressa possível para poder continuar cuidando da minha própria vida.
Mas a verdade é que minha libertação seria dificultada pelo fato de que não havia razão nenhuma para eu estar preso, e o Comandante Sarmento sabia disso quando me mandou para a Ilha das Flores – seu objetivo era pura e simplesmente me punir por algum tempo. Por isso ficaria lá durante 70 dias, completamente esquecido pelos meus carcereiros, que ignoraram todos os meus apelos para falar com alguma autoridade, até que alguém se lembrasse de dar fim ao castigo e me soltar... Mas não sem que eu tivesse que passar por todas as humilhações de praxe.
(trecho do livro Lábios que Beijei, de minha autoria, que será relançado ainda este ano)
                                                                                                   http://bloglog.globo.com/aguinaldosilva/

Marlon Dallagnol, conselheiro de Boninho ataca Tessália

Marlon Dallagnol (ou, como é conhecido, Real Insane), é um estudante de jornalismo de apenas 21 anos, mas tem no currículo o fato de ter sido o responsável por indicar Tessália e Serginho para entrarem na casa do BBB10. Ele mesmo chegou a fazer os testes, mas não passou. Para Serginho, ele torce. De Tessália, guarda mágoa.

Em conversa exclusiva com o R7, ele conta os detalhes da seleção dos dois participantes e dos motivos do ressentimento com a publicitária.
- Sérgio e eu fizemos praticamente as mesmas coisas, tínhamos fotologs muito acessados. Já Tessália, eu apresentei ao Boninho por ser uma das brasileiras anônimas mais seguidas no Twitter. Mas, depois de ela ter sido eliminada, nunca me procurou para agradecer, e tempo não faltou. Como deu pra perceber, ela é muito egocêntrica. Quem a conhece sabe que era totalmente diferente antes de entrar na casa. Mas a fama vai acabar antes do que ela imagina, porque ela não é humilde.

Câmara aprova abertura de processo contra Octávio

A resposta da Câmara Legislativa à decisão de Paulo Octávio em se manter no governo do Distrito Federal foi imediata. No espaço de meia hora, os deputados distritais decidiram reabrir a sessão do plenário, indicaram Batista das Cooperativas (PTB) como relator do processo de impeachment de Paulo Octávio e aprovaram o parecer favorável à abertura do processo, feito pelo deputado em dez minutos. Agora, tanto o governador licenciado, José Roberto Arruda (ex-DEM), quanto o vice-governador eleito do Distrito Federal respondem a processo de impeachment.

Ao todo, cinco pedidos de impeachment foram apresentados contra Paulo Octávio, tendo sido três aprovados pela Procuradoria da Casa, apresentados por representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), Partido dos Trabalhadores (PT-DF) e Central Única dos Trabalhadores (CUT-DF). Um pedido, do PCdoB-DF, ainda não foi analisado pela Procuradoria, e outro, do PSB-DF, foi rejeitado porque o representante do partido não apresentou cópia do título de eleitor na documentação.

Paulo Octávio é um dos homens mais ricos de Brasília. Declarou um patrimônio de R$ 320 milhões à Justiça Eleitoral em 2006. É dono de um império da construção civil que envolve prédios residenciais, shoppings e hotéis. Em cima desse patrimônio, ganhou prestígio e força política que o levaram a ser deputado, depois senador e hoje vice-governador.

“É preciso ampliar a consciência coletiva”

10,8% dos homens e 5,1% das mulheres com mais de 18 anos de idade da capital da República são homossexuais ou bissexuais. No Rio de Janeiro, o índice médio chega a 14,5%. Esses dados resultam da pesquisa Mosaico Brasil, encomendada pelo laboratório Pfizer, promovida pelo Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP e divulgada no final de 2008. A pesquisa ouviu 8200 pessoas de 10 capitais brasileiras, incluindo o Distrito Federal.


Em levantamento realizado pelo IBGE nos últimos meses de 2008, concluiu-se que em 5435 municípios (excluindo os mais populosos) existem 17 mil casais homossexuais vivendo sob o mesmo teto. O número corresponde a 0,02% de homens e 0,01% das mulheres nas cidades pesquisadas. Na ocasião, o presidente do órgão, Eduardo Pereira Nunes, declarou que o número não representa fielmente o quadro real brasileiro, já que a maior parte dos homossexuais “casados” está concentrado em regiões mais populosas. “Se fizéssemos o mesmo no Rio de Janeiro, São Paulo e outros estados da região Sudeste, o número seria maior do que estamos divulgando”, afirmou. Foi a primeira vez que o IBGE contabilizou homossexuais numa pesquisa desse tipo.