quinta-feira, 17 de junho de 2010

É muito bom torcer pela Argentina

O ato de torcer é um processo mágico em cada um. Não se torce simplesmente. Há muitas razões para isso e a principal é a questão da identidade. Uma seleção de futebol ou de outra modalidade de esporte, um atleta, um artista, um escritor, um empresário, um político e até um eleito numa multidão de anônimos, podem de repente se tornar ícones e atrair gerações de seguidores. Da mesma forma que isso acontece com pessoas, a relação é a mesma com os símbolos: um lugar, um monumento, um restaurante, um museu, uma rua, uma praia, uma história, um país.
Nos dois casos, pessoas e símbolos carregam significados que vão além das formas com as quais se apresentam. Torcer pela seleção de Maradona é uma atitude que vai além do futebol. As cores da camisa, a garra dos jogadores, a explosão de alegria diante das conquistas, as lágrimas amargas nos momentos de profunda tristeza, tudo isso agrega um imenso conjunto de valores que compõe a identidade Argentina e dá sentido a um povo e uma nação.

Quando entram em campo para disputar mais uma partida, Lionel Messi e seus companheiros são muito mais do que jogadores de futebol. São representações concretas de Buenos Aires, do tango, de Che Guevara, de Jorge Luís Borges, de Evita Perón, dos desaparecidos da época da ditadura militar que devastou aquele país, das mães da Praça de Mayo, da literatura que produz escritores geniais (Cortázar, Bioy Casares, Robert Arlt), da dramaticidade de uma história marcada por períodos de grande sofrimento e espetacular superação.
Para o meu azar ou a minha sorte, eu sou a minha consciência e ela (entre tantas vertentes) foi influenciada pelo exemplo de vida do Che, pelas histórias de Borges e de toda a grande literatura portenha, pela dramaticidade do tango. Daí a naturalidade com que torço pela Argentina.