quarta-feira, 17 de março de 2010

O dom de ser professor

"Os professores são o corpo e a alma dos programas educacionais"
Imprimir Enviar por e-mail Eu vi uma professora chorar de emoção porque ensinou a ler um aluno que tinha dificuldade de aprendizagem. As lágrimas eram de alegria. A maneira com que ela descreveu a cena em que a criança começou a juntar letras, pronunciar palavras e frases, continha o deslumbramento de alguém que acaba de alcançar a felicidade. Contribuindo para mudar a história de vida do aluno, a professora estava radiante. E o garoto vivia a experiência de uma grande descoberta que mudaria para sempre a sua existência. Para a professora, ouvir a voz do aluno lendo um texto pela primeira vez era uma recompensa indescritível.
Era o resultado do seu talento, da sua paciência, da sua generosidade, do método pedagógico que ela utilizou para um aluno diferenciado.

Em lugar de se intimidar, ela cresceu diante da dificuldade. Professora por vocação, foi corajosa no jeito de ser, no comportamento, no dom de ensinar. Uma verdadeira educadora, no sentido mais nobre da palavra. E isso certamente serviu de modelo para outros mestres.

Tomando essa educadora como exemplo, penso nos milhares de professores que lotaram a avenida Paulista na sexta-feira de sol de rachar mamona. Professor é a mais nobre das profissões. Depois dos nossos pais, são os professores que nos dão as mãos e nos ensinam as bases para a vida e o futuro. Muito do que somos nós devemos a esses homens e mulheres (também eles pais de família) que entraram nas nossas vidas e passaram a fazer parte das nossas histórias.

Na época do antigo curso primário, no ginásio, habitualmente chamávamos os professores de Dona Fulana, Seu Sicrano. Inesquecíveis. E é com nostalgia que recordo Dona Elza, Dona Vilma, Dona Sônia, Dona Rosalina, Dona Regina, Dona Dirce, Dona Deise, Seu Geraldo, Seu Rui. Verdadeiros mestres, também pertenciam à linhagem dos que atingem a condição de educadores, no sentido mais especial da palavra.

Foi um professor que me revelou a existência de Thomas Bernhard, escritor austríaco que é um dos meus preferidos em qualquer seleção de autores que revolucionaram a narrativa de ficção. Os livros, o cinema, o teatro, a dança, as artes plásticas, a cultura, a vida, tudo isso forma um imenso conjunto de fontes de conhecimento e de valores estéticos. No centro está a figura do professor. É ele que, no contato direto com o aluno, estimula o diálogo, promove o debate, trabalha o exercício da dúvida, desenvolve a construção da consciência crítica e da capacidade de dizer “não” às ideologias politicamente corretas que regem e dominam a sociedade.

Médicos, engenheiros, jornalistas, políticos, empresários, metalúrgicos, motoristas, empregadas domésticas, todos começaram suas histórias de vida com uma professora (ou professor) ensinando as primeiras letras, desconstruindo certezas, distribuindo conhecimentos. Ninguém é capaz de dizer (a não ser que seja injusto) que dispensou o professor na busca da formação humana e profissional necessária para enfrentar as batalhas da vida. E aqueles professores tiveram que ir à avenida Paulista para serem ouvidos.

Há algo muito esquisito num país em que professor tem que fazer greve para ser valorizado. Alguma coisa está errada. Ou os discursos dos governos têm um outro lado , que não aparece nos palanques, ou não têm sintonia com a realidade. Todos os governos do mundo, sejam de direita ou de esquerda (existe isso ainda?), incluem a educação entre as prioridades de ação. Muitos alardeiam a construção de escolas, contam nas campanhas eleitorais a soma dos prédios edificados, mas nem sempre lembram (ou teimam em esquecer) que os professores são o corpo e a alma dos programas educacionais. E eles tiveram que ir à avenida Paulista numa sexta-feira de sol escaldante para mostrar a cara e ocupar território.

Eles foram à avenida Paulista para mostrar que, além do dom de ensinar, têm famílias para sustentar, contas de água, luz, supermercado, aluguel ou prestação da casa própria, necessidades de saúde, de aperfeiçoamento profissional, de estudos complementares e tantas outras demandas e compromissos. E são justamente eles que, no cotidiano das salas de aula, fazem mais pelo país do que muitos revolucionários da história brasileira. Simplesmente porque com o uso do giz, do apagador, da lousa, dos livros, das apostilas, das explicações diante da cara de dúvida dos estudantes, eles são como combatentes da revolução que verdadeiramente conta na história de um país - a educação.

Os avanços da ciência, da tecnologia, do desenvolvimento econômico e social, tudo isso começa, caminha e se estende para um horizonte infinito pelas mãos dos professores. Os governos os elogiam nos palanques, nos microfones, nas entrevistas, mas os desprezam nas ações. O descompasso entre os discursos e as políticas educacionais é enorme.

Volto àquela professora que se emocionou com o aluno que tinha dificuldades de aprendizagem. Ela também estava lá, na avenida Paulista. Agora, trocando o ambiente da sala de aula pelo asfalto quente de uma sexta-feira de verão, ela mais uma vez não se intimidou e exerceu o seu dom de ensinar. Desta vez, no palco da rua e numa aula diferente, ela deu uma lição de vida.

                                                                                              Jornalista  -Carlos Araújo

Audiências de telivisão no dia 16/03/2010

GLOBO:

Mais você - 7
Sinhá moça - 15
Malhação - 20
Cama de gato - 28
Tempos modernos - 25
Viver a vida - 42
BBB - 36



SBT:

Programa do Ratinho - 5
Uma rosa com amor - 6


RECORD:
Bela, a feia - 14
A história de Ester - 12


BAND:

Dia dia - 1
Márca - 2,4